A Marinha do Brasil afirmou nesta quinta-feira (10) que, “após uma triagem das informações do tráfego mercante na região de interesse”, está notificando 30 navios-tanque de 10 diferentes bandeiras a prestarem esclarecimentos na investigação sobre a origem do óleo que já atinge 63 municípios de 9 estados do Nordeste brasileiro, e que já provocou a morte de pelo menos 12 tartarugas e uma ave.
“A Marinha entrará em contato com as autoridades competentes dos países dessas bandeiras, com a Organização Marítima Internacional e com a Polícia Federal, visando elucidar todos os fatos. As atividades em curso também têm apoio do Ministério da Defesa e Exército Brasileiro e de instituições dos EUA”, diz a nota encaminhada à TV Globo.
Segundo a Marinha, que classificou o fato como um “grave acidente de poluição por óleo”, a investigação mobiliza 1.583 militares de 48 organizações diferentes, além de 5 navios, uma aeronave e embarcações e viaturas pertencentes a autoridades ao longo do litoral nordestino, como capitanias dos portos, delegacias e agências. Triagem de mais de mil navios A triagem inicial focou em quase 1.100 navios-tanque que circularam entre 1º de agosto e 1º de setembro numa área de 800 km de distância da costa brasileira, entre Sergipe e Rio Grande do Norte, estão sendo analisados. As empresas donas desses navios e seus representantes no Brasil foram consultados para saber se registraram alguma anormalidade, de onde vieram, para onde foram e que tipo de carga estavam carregando.
Mais cedo na quinta, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, negou que o governo tenha demorado a reagir ao vazamento. “Não só a investigação foi iniciada no dia 2 de setembro, como também foi sendo mobilizado ao longo do tempo, todos os recursos disponíveis para, não só realizar a limpeza dessas áreas, mas também para tentar mitigar a propagação desse vazamento para outras regiões”, afirmou ele.
Sequência de pontos atingidos
O que mais chama a atenção no vazamento de petróleo é a sequência dos pontos atingidos. Na animação abaixo, feita pelo G1 com base nos levantamentos divulgados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), é possível notar que a Paraíba foi o primeiro estado a receber as manchas.
Depois, Pernambuco e Alagoas, ao sul, e Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão, ao norte. E, novamente ao sul, Sergipe e Bahia.
Até 9 de setembro já eram quase 140 pontos nos 9 estados nordestinos.
Correntes marinhas
O comportamento das correntes marítimas na costa brasileira já é amplamente estudado e conhecido. Por isso, para os oceanógrafos e meteorologistas da Marinha, não foi difícil criar um modelo que ajude a entender o deslocamento provável da mancha de petróleo.
Um gráfico feito pela Diretoria de Hidrografia e Navegação mostra que a corrente sul-equatoriana, que vem da Àfrica, se divide em duas ao chegar próxima ao litoral do país. O problema é que uma das vertentes, a que vem para o sul, de repente faz um giro de 180 graus e sobe para se juntar à corrente do norte do Brasil, que segue em direção ao Caribe.
A outra vertente segue para o sul e se junta à corrente do Brasil, na altura de Salvador. Foi esse comportamento, segundo a Marinha, que provocou a poluição de maneira aparentemente desencontrada. E, com certeza, inédita.
“O que nós conseguimos perceber é que é um fenômeno bastante complexo, o comportamento das correntes ali é complexo”, diz Fernando José Moraes Monteiro, da Divisão de Oceanografia Operacional do Centro de Hidrografia da Marinha.
“Há várias deflexões, mudanças de direção. E o padrão de correntes ali da área, que foi observado durante todo o mês de final de agosto, início de setembro e até outubro possibilita justificar essa ocorrência em áreas tão extensas da costa do Nordeste.”